A
Shimano, fabricante japonesa líder de componentes de bicicleta, sempre se
baseou em nova tecnologia para nortear seu crescimento, mas em 2004, em seus
segmentos tradicionais de mountain bikes e bicicletas de corrida de alta
qualidade nos Estados Unidos, a empresa estava com o crescimento estancado. Com
isso e diante do mercado em evolução, buscou ajuda junto a IDEO(empresa que
colabora para potencializar a inovação e conduzir empresas ao sucesso) para
tentar algo novo.
A inovação
começou com um exercício de relação entre designer e cliente que assumiu uma
postura muito diferente do que teria sido a alguns anos antes. Uniram-se e exploraram juntas o cenário em evolução do
mercado do ciclismo, como explica:
Na
primeira fase, reunimos uma equipe interdisciplinar de designers, cientistas
comportamentais, profissionais de marketing e engenheiros cuja tarefa era
identificar restrições apropriadas para o projeto. A equipe teve como ponto de
partida um palpite de que não deveria se concentrar no segmento superior do
mercado. Em vez disso, eles saíram a campo para descobrir por que 90% dos
adultos americanos não andam de bicicleta, embora fizessem isso quando
crianças.
Procurando novas formas de
pensar sobre o problema, eles conversaram com todos os tipos de consumidores e
descobriram que quase todas as pessoas tinham ótimas lembranças do tempo que
andavam de bicicleta na infância, mas se sentem sem motivação atualmente para o
ciclismo, intimidados inclusive pelos atletas vestidos em roupas de lycra que
atuam como vencedores na maioria das lojas de ciclismo; pela complexidade e
custo excessivo das bicicletas, acessórios e roupas apropriadas; pelas
exigências de manutenção da máquina e pelo perigo de pedalar em ruas e estradas
não projetadas para isso. Eles observaram que todos os entrevistados pareciam
ter uma bicicleta encalhada em casa.
Essa pesquisa
focada na opinião de fanáticos pelo ciclismo e também de pessoas que não
pertenciam à base de clientes essencial da Shimano, levou a descoberta de que
uma nova categoria de ciclismo poderia reconectar os consumidores americanos às
suas experiências de infância. Um enorme mercado inexplorado começou a surgir e
tomar as primeiras formas.
A equipe
de design, inspirada nas antigas bicicletas Schwinn, da qual todos pareciam se lembrar,
se saiu com o conceito “coasting” que atrairia ciclistas não praticantes de
volta a uma atividade simples, direta, divertida e saudável. Construídas mais
para o lazer do que para o esporte, as coasting bikes não teriam algumas coisas
na sua estrutura, como controles no guidom, alojamentos de marchas de precisão
que precisam ser limpas e trocadas com o tempo, ou invés disso, como as
bicicletas do passado, os freios seriam acionados pedalando para trás, com
selins estofados e confortáveis, guidom vertical e pneus super-resistentes a
perfuração. Além de uma bicicleta estilo retrô, a bike incorpora também uma
engenharia sofisticada com transmissão automática que troca de marcha à medida
que a bicicleta acelera ou desacelera. Ou seja, praticidade, sem complicações e
pouca exigência de manutenção.
Outras
pessoas e organizações se envolveram no projeto à medida que ele passava da
inspiração à idealização e depois à fase de implementação. De forma
interessante, o primeiro problema, a aparência, que os designers teriam
esperado solucionar, foi o último estágio do processo de desenvolvimento,
quando a equipe criou um “design de referência” para mostrar o que era possível
e inspirar as equipes de design dos fabricantes de bicicletas. O sucesso foi
tão grande, que um ano depois, sete novos fabricantes se candidataram para
produzir a coasting bike.
Resultado: um exercício de design se tornou um
exercício de design thinking.
Fonte: Design Thinking - Uma Metodologia Poderosa Para Decretar o Fim das Velhas Ideias - Tim Brown